O óleo de coco é um dos alimentos da moda que em um momento é o queridinho e em outro momento é o vilão, considerado como “veneno puro”.
Sabemos que alguns alimentos, como a carambola para quem tem doença renal é tóxica, e que a toranja para quem utiliza sinvastatina ocasiona reações que podem ser fatais. Mas, dizer que um alimento é “veneno”, isoladamente e de modo generalizado, é um erro.
Por outro lado, qualquer alimento da moda, por mais benéfico que seja, pode ser considerado um risco à saúde quando exaltado como “milagroso”, pois assim é ingerido em quantidade excessiva podendo gerar efeitos colaterais.
Uma alimentação saudável deve ser equilibrada e baseada em evidências, então vamos às considerações.
Em março de 2017, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) publicou em seu site o seu posicionamento oficial a respeito da prescrição do óleo de coco.
De acordo com a ABRAN, o óleo de coco é obtido a partir da polpa do coco fresco maduro e é composto por mais de 80% de ácidos graxos saturados e ácidos graxos insaturados (oleico e linoleico). Dentre os ácidos graxos de cadeia médica estão as gorduras láuricas que são resistentes à oxidação não enzimática, ou seja, ao contrário de outros óleos e gorduras, apresentam temperatura de fusão baixa e bem definida. Devido suas propriedades físicas e resistência à oxidação, o óleo de coco é muito empregado no preparo de sorvetes, manteiga de cacau e alguns doces.
Considerações da ABRAN (2017) sobre o óleo de coco:
- Comparado a óleos vegetais menos ricos em ácido graxo saturado, recente revisão mostrou que ele aumenta o colesterol total, particularmente o LDL-colesterol, o que contribui para um risco cardiovascular;
- Possui atividade antimicrobiana, antifúngica, antiviral e imunomoduladora, porém estes estudos são experimentais, não existem estudos clínicos que demonstrem esse efeito, portanto faltam evidências suficientes para realizar esta recomendação;
- Não existem evidências que relacionem o efeito do óleo de coco com a função cerebral de indivíduos saudáveis ou com alterações cognitivas;
- Um número muito pequeno de estudos, com resultados controversos, tem relatado os efeitos do óleo de coco sobre o peso corporal em seres humanos. Não existem evidências suficientes para concluir que o consumo do óleo de coco leva à redução de adiposidade.
Concluindo, a ABRAN recomenda que o óleo de coco não deve ser prescrito nas seguintes situações:
- Na prevenção ou no tratamento da obesidade;
- Na prevenção ou no tratamento de doenças neuro-degenerativas;
- Como nutriente antimicrobiano;
- Como imunomodulador.
Veja também as considerações da I Diretriz sobre o consumo de gorduras e saúde cardiovascular:
Os ácidos mirístico e palmítido, presentes na gordura do óleo de coco, apresentam maior poder de elevar o colesterol LDL e o HDL, porém esse efeito não parece ser a causa do aumento da prevalência de doenças cardiovasculares, de acordo com estudos realizados na Ásia, onde o óleo de coco representa até 80% da gordura consumida em algumas regiões. Já no Brasil, “um ensaio clínico mostrou redução da relação LDL:HDL, aumento do HDL-C e redução da circunferência abdominal no grupo que utilizou óleo de coco”. Mas, apesar dos benefícios do óleo de coco no HDL, os estudos experimentais comprovam o efeito hipercolesterolêmico do coco e seus subprodutos, como mostra um estudo com cobaias onde comparou óleo de coco com azeite de oliva e óleo de girassol. “O grupo tratado com óleo de coco apresentou aumento significativo da fração não HDL e triglicérides”.
A Diretriz conclui que o óleo de coco não deve ser recomendado para tratamento de hipercolesterolemia, sendo necessários estudos adicionais para utilização (Grau III- B de evidência).
Já o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) diz:
“Diante disso, considerando a influência dos ácidos graxos ingeridos sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares e sobre as concentrações plasmáticas de lípides e lipoproteínas, e o preço para a aquisição desse tipo de produto, o óleo de coco, quando utilizado, deve seguir os princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer. A recomendação é de que seja usado em pequenas quantidades e em preparações culinárias, preferencialmente compostas por alimentos in natura ou minimamente processados, não sendo recomendado para tratamento da hipercolesterolemia”.
Não existem grandes evidências dos benefícios da ingestão de óleo de coco, porém também não há evidências de que ele seja um “veneno”.
Consuma o que você gosta, porém com variedade e equilíbrio!
Não siga modas, siga evidências! Consulte um bom profissional!
Referências Bibliográficas:
http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2013/Diretriz_Gorduras.pdf
http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/