A frutose das frutas é a vilã do fígado?

 

 

Atualmente surgiram diversas polêmicas sobre os malefícios da frutose, açúcar presente nas frutas, para o fígado, mas será que ela pode causar cirrose mesmo?

O que é cirrose?

Cirrose é um estado grave de inflamação do fígado, com fibrose e necroinflamação, que pode surgir através de uma esteatose hepática (gordura no fígado), com ou sem causa alcoólica, porém não tratada.

A frutose

A frutose é um açúcar simples, ou seja, monossacarídeo, presente nas frutas, no néctar, no mel, na sacarose e em alimentos processados.

O metabolismo da frutose

O metabolismo da frutose é diferente do metabolismo da glicose, pois a maioria das células do corpo humano usa a glicose como fonte de energia. Se consumirmos 100g de glicose, cerca de 80% serão utilizadas para células do corpo e 20% serão metabolizadas no fígado, enquanto após ingerir 100g de frutose, 100% irá para o fígado, sendo que em excesso causará aumento do estresse oxidativo e contribuirá para a necroinflamação do fígado, gerando desta forma, gordura no fígado ou evolução do quadro.

A frutose das frutas

As frutas contêm frutose, porém mesmo aquelas que têm um alto índice glicêmico, como a melancia, apresenta uma baixa carga glicêmica, pois contêm em sua composição muitas fibras, água,  compostos bioativos e fitoquímicos (substâncias benéficas para a saúde) que irão modular a resposta glicêmica.

A frutose e outros açúcares dos alimentos industrializados

Por outro lado, a frutose contida em alimentos industrializados (bebidas açucaradas, barras de cereais, biscoitos recheados, sorvetes, entre outros) geralmente está presente em alimentos com baixo teor de fibras e sem compostos bioativos, e estes produtos alimentícios ainda podem ter outros tipos de açúcares industriais associados, como o xarope de milho com alto teor de frutose, açúcar invertido, sacarose, xarope de milho, xarope de glicose, maltodextrina, dextrose, amido modificado e xarope de agave.

Vejamos a composição de alguns alimentos industrializados:

– Iogurte: produtos químicos, xarope de glicose, açúcar invertido, maltodextrina, amido modificado, açúcar mascavo, mel.

– Sorvete: Açúcar, xarope de glicose, açúcar líquido invertido.

– Biscoitos recheados: Açúcar, gordura vegetal hidrogenada, açúcar invertido.

– Biscoitos, um tipo com um pouco de fibras e sem recheio: Açúcar, gota de chocolate, açúcar invertido.

– Cereal matinal com adoçado: Açúcar, xarope de glicose.

– Biscoito, um tipo salgado: Gordura vegetal hidrogenada, açúcar, açúcar invertida.

– Biscoitos maisena: Açúcar, açúcar invertido.

Os alimentos citados acima, nesta composição, devem ser evitados por quem tem problemas hepáticos , como gordura no fígado que evoluir até se tornar cirrose.

O que dizem as referências?

Estudos mostram que a frutose, em uma alimentação normocalórica, não causa mais danos metabólicos do que outras fontes de energia, porém, maiores quantidades de frutose industrial foram associados às dietas hipercalóricas.

A frutose proveniente das frutas, mesmo com uma dieta com um pouco mais de calorias, porém sem excessos da mesma, não é fator que causa a cirrose.

Conclusão

“Não é a frutose da fruta ou industrializada o fator de risco para esteatose, mas sim o excesso de calorias ingeridas” (Consenso Brasileiro de Hepatologia, 2015).

Em uma quantia de 3 a 4 frutas por dia são encontradas de 3 a 7g de frutose, sendo, portanto difícil de ultrapassar o consumo de 50 gramas por dia.

É necessário cautela com o excesso do consumo de frutose, principalmente quando se trata dos alimentos industrializados que a contenha.

Frutas não irão causar cirrose, mas sim um conjunto de hábitos alimentares errôneos, como o excesso de calorias, de frutose, gorduras e substâncias inflamatórias, álcool, além do excesso de peso e outros inúmeros fatores.

Substâncias antioxidantes, composto bioativos, vitaminas, minerais e fibras protegerão a sua saúde, inclusive a do seu fígado, e um dos alimentos que podemos encontrar estes compostos são as frutas.

 

Referências Bibliográficas

Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia – 2015.

Livro do Curso: Esteatose Hepática Não Alcoólica- Ana Paula Pujol

Livro: Nutrição- Conceitos e aplicações, de Galisa, M.S., Esperança, L.M.B e Sá, N.G de.